Num espaço de poucos meses o país celebrará uma Copa do Mundo de futebol e eleições gerais. O pleito em outubro vai eleger o presidente e vice-presidente da República, deputados federais, senadores, governadores e vice-governadores, deputados estaduais. Enquanto isso, por fora do mundo oficial e seus convidados, movimentos organizações e sindicatos estão em polvorosa. Tem fumaça no ar e fogo por debaixo das cinzas. Os ventos começam a soprar: manifestações, greves e rebeliões.
Fazer previsões do que virá nos próximos dias é mais do que imprudente. Ainda que tenhamos indícios, não sabemos se os protestos populares atingirão os mesmos patamares de junho de 2013. Muitos críticos vêm se perguntando: Copa para quem? A expectativa criada pelos organizadores e pelo governo de que a Copa do Mundo traria significativas melhorias para a população não se concretizaram. Esse fiasco, o povo não está disposto a engolir pacificamente. Acuados, políticos de todas as espécies e partidos que planejavam utilizar o megaevento como vitrine para ganhar visibilidade, estão desistindo da ideia com medo de serem vaiados. Até a presidente Dilma anda desconfiada e já não quer aparecer nem fazer discursos nos estádios. E não adianta o presidente da Fifa vir com moralismos pedindo civilidade e respeito nas cerimônias. Será vaiado do mesmo jeito.
Uma coisa é certa: a Copa do Mundo já tem definidos seus vencedores e vencidos. A Fifa e seus aliados, os donos do poder, seus grandes financiadores e empreiteiras, além dos velhos parasitas do futebol brasileiro, alguns ex-jogadores-cartolas e empresários, já ganharam seu jogo. Os historicamente excluídos já perderam, o que em alguns casos inclui o próprio teto, o espaço, o chão, oportunidades… A Copa do Mundo serviu de motivo para uma higienização das cidades. Remoções forçadas, ambulantes proibidos de trabalhar, mobilidade urbana comprometida. Esse é o panorama.
A Copa do Mundo é capaz de criar a seguinte situação: para sediar o evento, um estado de direito democrático deve se submeter às regras impostas por uma organização comprovadamente corrupta e mafiosa o que equivale a aceitar imposições de grupos criminosos à margem da lei. Pela força do mercado, na Sociedade do Espetáculo grupos poderosos mandam e desmandam em todo o mundo. A Fifa confia a organização dos espetáculos àqueles que garantirem construções imponentes e a transmissão dos jogos para todo o planeta, a partir dos quais obtém retornos que são contadas aos bilhões. Para isso, atropela leis e direitos conquistados com muita luta pela população local. Por outro lado, envolvido pelo mesmo sistema, países disputam a oportunidade de sediar os jogos. O negócio é atraente por que alguns ganham muito com isso. Uma vez aceito, não adianta reclamar: “vai ter Copa sim” – o exército está nas ruas! A lei geral da Copa foi votada e aprovada pelos nossos “brilhantes” parlamentares que aceitaram imposições absurdas. Isso mostra como os nossos governos “democráticos” e inclusive a oposição, são reféns da ditadura do mercado e a ele servem de joelhos. A final de contas jogam no mesmo time. Com o superfaturamento na construção de estádios e obras anexas, somado com os cachês dos patrocinadores oficiais, a caixinha dos partidos deve estar cheia para a campanha eleitoral que se aproxima.
Enquanto isso a população que tem o direito de ir e vir, está proibida de transitar por onde os torcedores passam. As regras da Fifa proíbem que os ambulantes vendam a mercadoria nas ruas que levam aos estádios. O monopólio é das empresas importantes. O espetáculo vai começar e os circenses seguem sem pão. Os pobres são retirados dos arredores dos estádios: no Rio, calcula-se a deportação de 170 mil impactados. E em 2016 ainda tem as Olimpíadas. Os mendigos que degradam o espetáculo devem desaparecer.
O governo mostra um esquema de guerra para garantir a segurança da Copa. Depois de oferecer a ajuda de 36 mil militares aos Estados, a presidente Dilma Rousseff decidiu tirar dos quartéis mais 21 mil homens do Exército, enquanto os governadores suspenderam a férias de seus policiais militares. O custo disso para os cofres públicos será na ordem de R$ 1,9 bilhão. No interior dos estádios a Fifa exige segurança privada.
O mais interessante é que a Sociedade do Espetáculo e do Consumo cria situações inusitadas. Teremos uma Copa nos campos e outra nas ruas sendo possível desfrutar de ambas, sem contradições. Nos estádios, nas ruas ou diante da telinha da TV, o espetáculo continua. Dentro dos campos, “padrão Fifa”, fora deles, “padrão Brasil”.
*Mestre em comunicação e secretário nacional da Pontifícia União Missionário no Brasil