Amanhã, 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, cidades em todo o Brasil se mobilizarão em mais uma jornada de luta por justiça, dignidade e respeito aos direitos das mulheres. Apesar de mecanismos como a Lei Maria da Penha e mais atual que qualifica o feminicídio com crime hediondo são considerados avanços. Mas muito ainda há de se caminhar para atingir uma sociedade igualitária.

Nesta entrevista, Cinthia Abreu, militante da Marcha das Mulheres e integrante da rede Jubileu Sul Brasil, fala sobre a articulação dos movimentos sociais e organizações e das principais lutas feministas.

Nós, mulheres da Marcha Mundial, junto com outros movimentos de mulheres tomaremos as ruas no 8 de Março, para denunciar a violência contra mulheres, o genocídio realizado contra população negra, contra criminalização das mulheres, pela manutenção da vida.

Neste 8 de Março, o que mais representa a luta das mulheres no Brasil? No que se avançou, o que retrocedeu?

Um dos avanços foi a lei Maria da Penha, que diminuiu os crimes de violência praticado contra as mulheres. No entanto, retrocedemos nos espaços de política, perdemos com representatividade das mulheres no espaços de poder, representação política, no parlamento, a bancada feminina diminuiu. Por isso queremos avançar pedindo paridade política, somente assim poderemos defender as políticas públicas voltadas para mulheres.

Mas ainda precisamos avançar muito no que se refere à violência contra mulher que tem números alarmantes! As piores situações estão entre as mulheres negras, que estão na margem da criminalização pela polícia, estado repressor, são em maioria a população encarcerada, são as que mais morrem em decorrência do aborto, estão fora dos espaços de decisão políticas, estão fora das universidades, tem os piores salários. Hoje como resistência pela vida, as mulheres negras têm feito uma luta contra o genocídio da população negra. Neste ano teremos a Marcha das Mulheres Negras. No dia 18 de novembro de 2015 iremos marchar em Brasília.

Aborto, sexismo, violência doméstica, machismo ainda são muitos os desafios que temos pela frente. Há uma onda de conservadorismo no país. Como se mobilizar num contexto com este?

Cada vez mais os movimentos de mulheres têm que estar nas ruas para defender o direito das mulheres. Esta onda de conservadores não é somente no Brasil, ela é internacional, podemos ver isso na França, onde aconteceu ato contra o casamento igualitário, pois o atual governo implementou o projeto do casamento .

Por outro lado, Moçambique aprovou a legalização do aborto, um grande avanço para mulheres negras que são a maioria que morrem em decorrência de aborto. Mas de alguma forma os movimentos têm conseguido responder às ações dos conservadores machistas. No final do ano passado presenciamos uma deputada [Maria do Rosário] sendo ofendida violentamente no espaço público. Fizemos atos em protesto ao comportamento machista de deputados conservadores.

No ano passado, São Paulo foi a cidade que mais matou a população LGBT, isso ainda demonstra que os conservadores não estão somente nos espaços de políticos, utilizam de violência pra nos silenciar. O Brasil é o país que mais mata LGBT, o país que mais mata jovens do que os países que vivem em conflitos.

Temos nossos salários inferiores aos dos homens temos muitas desigualdades para corrigir.

É notório o fortalecimento de movimentos e organizações que atuam na defesa dos direitos das mulheres. Na sua opinião, a sociedade de forma geral já está mais sensibilizada para estas questões?

A sociedade debate mais sobre temas das mulheres, por exemplo a lei Maria da Penha é a mais conhecida pelos brasileiros. Mas ainda precisamos avançar na aplicabilidade da lei. Isso demonstra que as mulheres hoje sabem que têm uma lei que as protege. Isso deu mais seguranças para mulheres denunciar seus agressores. Recentes estudos demostram que a lei Maria da Penha, em dez anos, conseguiu diminuir os crimes praticados contra mulher.

Qual mensagem a Marcha Mundial das Mulheres deixa para mais este 8 de Março?

Nós, mulheres da Marcha Mundial, junto com outros movimentos de mulheres tomaremos as ruas no 8 de Março, para denunciar a violência contra mulheres, o genocídio realizado contra população negra, contra criminalização das mulheres, pela manutenção da vida.

Estaremos nas ruas esse ano para mais uma vez afirmar nosso compromisso com a sustentabilidade da vida humana e que não seremos nós, as mulheres, que pagaremos por essa crise do capital.

Convocamos a todas para se somar aos atos que acontecem neste dia em todas as cidades do país. Lugar de mulher é na luta! Seguiremos em marcha Mundial das Mulheres.

Por Rogéria Araujo, Rede Jubileu Sul Brasil

 

Deixe um comentário